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Foto do escritorJúlio César Martins

SÍNDROME DA SUSPENSÃO INERTE



TRABALHO EM ALTURA - SUSPENSÃO INERTE


A síndrome da suspensão inerte também é conhecida como hipotensão ortostática, trauma de suspensão inerte ou síndrome da cadeirinha. Geralmente, ela é produto das situações de queda ou do tempo de suspensão necessário à chegada do socorro. Ou seja, é fruto da condição de imobilidade e suspensão.


O uso do cinto de segurança, indispensável às atividades em alturas, pode comprimir o fluxo de sangue do trabalhador e, consequentemente, impedir que o sistema circulatório funcione corretamente. Nessa situação, as fitas do cinto impossibilitam a passagem adequada do sangue pelas artérias e veias, principalmente nos membros inferiores.


Em pouco tempo, podem surgir alterações, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão das vias de condução sanguínea, a fim de restabelecer a circulação. O corpo percebe que a medida não é eficaz e a pressão é reduzida. Inicia-se, então, o depósito de sangue nos membros inferiores e a diminuição da quantidade de oxigênio nesses e no cérebro.


O estrangulamento causado pelas fitas do cinto é capaz de promover edemas e liberação de toxinas (acidose) por isquemia leve, cujos desdobramentos podem gerar trombose venosa, insuficiência renal, embolia pulmonar e fabricação de ácidos nos músculos.


REFERÊNCIA HISTÓRICA


No final dos anos 70, o registro de mortes em indivíduos aparentemente saudáveis,  principalmente relacionados  à espeleologia, que foram encontrados mortos, suspensos em cintos, com nenhum trauma aparente, intrigou vários pesquisadores.

Inicialmente, essas mortes foram atribuídas à síndrome de "fadiga por hipotermia", mas a constatação através de publicações de artigos de medicina do trabalho, relacionadas com o  sistema de proteção contra queda e a posterior realização de estudos clínicos específicos, modificaram as conclusões iniciais.  Os  trabalhos experimentais realizados com voluntários saudáveis mostraram a gravidade do problema e definiu o conjunto de sintomas que sofreu os voluntários como "Síndrome da Suspensão Inerte".

 O desenvolvimento desta síndrome pode chegar a constituir um risco vital para atletas ou trabalhadores que depois de uma queda ficam suspensos por cinto de segurança, inconsciente ou impossibilitado de se mover e não são resgatados rapidamente.


TESTES REALIZADOS

Em 1979, pesquisadores realizaram 65 testes de suspensão em posição vertical e imobilização. Os testes contaram com ajuda de montanhistas experientes e quatro tipos de cintos.  Os resultados após os testes mostraram os mesmos efeitos negativos observados em outras experiências, tais como; - dormência; - dor intensa; - sensação de asfixia;  - contrações incontroláveis; - hipotensão e taquicardia. Em dois casos houve perda de consciência.

As conclusões finais do estudo evidenciaram, mais uma vez, que a suspensão vertical por cinto pode causar a perda de consciência, sem qualquer trauma ou perda de sangue. Essa progressão do quadro clínico em indivíduos que permaneceram inconscientes pela redução do fluxo sanguíneo cerebral, podem causar a morte em 4 a 6 minutos.



OS PRIMEIROS SOCORROS


O primeiro objetivo terapêutico é resgatar a vítima com vida. O resgate rápido se impõe diante de qualquer outra manobra.


Numerosas publicações descrevem mortes em poucos minutos do resgate (morte de resgate), depois de colocar aos acidentados em posição horizontal.

A etiopatogenia mais provável da "morte de resgate" é a sobrecarga aguda do ventrículo direito, por afluxo em massa do sangue das extremidades inferiores, quando o acidentado é colocado bruscamente em decúbito dorsal.


Neste Caso o Socorrista e pessoal do resgate tem que saber como lidar com pessoas nesta condição. O aumento letal de retorno do sangue para a circulação central e o coração é conhecida como síndrome de refluxo, retido nas extremidades o sangue torna-se hipoxêmico, ou seja, fica com baixa concentração de oxigênio.


Quando o paciente é colocado em decúbito dorsal, o sangue acidótico com baixa concentração de oxigênio retorna rapidamente da circulação central e no coração. Isto pode resultar em fibrilação ventricular imediata e uma ruptura ou enfarte do coração, pode ocorrer também danos letais para o fígado, rins e cérebro.


O socorrista deve manter parte superior do tronco do paciente na posição vertical, pelo menos, a um ângulo de 30 a 40 graus, com as pernas flexionadas e permanecer 10 minutos nesta posição, em seguida, move-se lentamente para o paciente numa posição de supinação, ajustando o na maca.

RECOMENDAÇÕES E PREVENÇÕES


Uma das primeiras medidas de prevenção é a divulgação desta patologia entre os trabalhadores ou usuários de cinto, como; esportistas, e as pessoas que podem ter relação com o resgate (colegas da vítima, socorristas ou  resgatistas, médicos que costumam atender estas emergências). É particularmente importante para evitar o agravamento dos sintomas a rapidez com que se realizem as manobras de resgate, especialmente em pessoas já inconscientes, nas quais a morte pode ser inevitável se as manobras se realizam de forma incorreta.

Diante de uma possibilidade de um eventual acidente, as simulações ou treinamentos periódicos de resgate de vítimas em suspensão, deveriam ser obrigatórios nos planos de formação profissional de trabalhadores em altura  e de esportistas que utilizam esses acessórios.


O uso correto do cinto, o conhecimento de manobras de resgate específicas e sua realização periódica são essenciais para dar uma resposta adequada diante de um acidente deste tipo.


Existem fatores individuais que podem aumentar o risco de uma síndrome da suspensão inerte, fica aqui as recomendações aos usuários:


- O trabalho com o emprego de cordas e suas técnicas deve ser planejadas, para que em caso de emergência a vítima possa ser resgatada imediatamente.

- Os trabalhadores devem receber treinamento e formação específica em técnicas de resgate para realizar trabalhos deste tipo.

- Os trabalhadores não devem realizar trabalhos em altura quando apresentam fatores de risco individuais (incapacidades, doenças…) ou apresentam condições que favoreçam a aparição de uma síndrome da suspensão inerte.

- Quando ocorrer um acidente, deve-se dar prioridade ao resgate e não se deve perder tempo em estabilizar à vítima.

- Diante da possibilidade de um acidente, os trabalhadores que utilizem sistemas de suspensão com cintos  não devem trabalhar nunca sós.

- Quando a mobilidade das pernas se encontra limitada, deve-se evitar permanecer suspenso  durante um período prolongado de tempo

- Evitar resgatar às vítimas em posição vertical, e se isto é impossível, deve-se resgatar à vítima no menor tempo possível.

- Se a vítima permanece consciente durante o resgate, tranquiliza-la e pede que se  mantenha as pernas, se possível, em posição horizontal.

- É conveniente durante o trabalho em suspenso, utilizar um sistema de apoio dos pés e mover as pernas frequentemente. Podendo se usar um pedal de emergência, cinta de ancoragem ou improvisando com um cordelete.




Fonte: “Síndrome del arnés”,  Trauma de la suspensión;  M. Avellanas Chavala (Servicio de Medicina Intensiva. Hospital San Jorge. Huesca), D. Dulanto Zabala (Servicio de Anestesiología y Reanimación. Hospital de Basurto. Bilbao), SEMAC (Sociedad Española de Medicina y Auxilio en Cavidades)

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